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O espelho que engana?

Perturbações do comportamento alimentar. 

Ter uma imagem corporal positiva não é tão simples como limitar-se a olhar ao espelho e pensar que se tem um ótimo aspeto, numa época em que ver imagens dos ídolos da juventude com corpos esculturais pode diminuir a auto-estima e aumentar os níveis de ansiedade dos adolescentes. A comunicação social exerce uma pressão avassaladora para ter determinado aspeto sendo que todos devemos estar cientes que o corpo perfeito não existe.

 

Os seres humanos têm muitas formas e tamanhos, caraterísticas físicas diferentes que deverão ser respeitadas e valorizadas, no entanto, aos olhos dos adolescentes nem sempre isso se torna evidente.

 

As perturbações do comportamento alimentar manifestam-se através de perturbações graves na autoimagem e numa relação disfuncional com o padrão alimentar, expondo uma relação difícil com as emoções, com o corpo (uma vivência desconfortável e avaliação negativa do corpo) e trazem graves prejuízos para a saúde. As principais alterações do comportamento alimentar são as que envolvem restrições alimentares, comportamentos de eliminação da comida ingerida e alimentação errática variando entre a ingestão compulsiva e o jejum. Afetam cerca de 4% da população, quase 90 % mulheres, sobretudo jovens, já que a idade de início mais habitual é a adolescência.

 

A anorexia e bulimia são doenças que se iniciam com uma fixação pelo controlo do corpo, procurando resolver a sua baixa autoestima e autoconceito com dietas e perda de peso. A dieta restritiva, sem orientação médica, leva a uma carência de nutrientes que, conduzindo a um desequilíbrio do metabolismo, altera a noção de fome e saciedade. 

 

A anorexia manifesta-se por um controlo exagerado sobre os alimentos (desde a compra até à preparação), uma obsessão com o peso corporal e um medo intenso de engordar. Pode existir uma forma restritiva – marcada por dieta rigorosa e recusa em manter peso normal; ou a purgativa – mais grave, pois recorre ao vómito e abuso de laxantes. Na anorexia, além do baixo peso e desnutrição, é comum a falta de menstruação, perda de densidade óssea e pode levar a problemas cardíacos.

 

Os principais sinais de alerta que devem motivar uma preocupação dos pais são:

  • excessiva perda de peso - uso de roupa larga para disfarçar a perda de peso;
  • ansiedade à volta da comida (contar calorias ou pesar comida) e das refeições - evitar atividades sociais que envolvam comida, nomeadamente festas e jantares;
  • deixar de fazer as refeições em família ou comer a mesma refeição;
  • idas ao wc no fim da refeição;
  • constantemente a pensar e a falar sobre comida, peso, imagem corporal - pesar-se repetidamente (todos os dias, por exemplo), aumento da preocupação em fazer exercício físico;
  • sentir-se fraco, cansado, sem energia e com dificuldades de concentração.

 

A bulimia manifesta-se por momentos de ingestão alimentar compulsiva, que são depois seguidos de comportamentos compensatórios (indução de vómito, prática excessiva de excessivo físico, abuso de laxantes e o jejum prolongado) que pretendem eliminar o que se comeu. O peso apesar de oscilar, mantém-se normal para a idade e altura. Pode causar, entre outros, problemas como insuficiência renal ou cardíaca, problemas digestivos e deterioração nos dentes e gengivas.


A perturbação de ingestão alimentar compulsiva (binge eating), caracteriza-se por uma alimentação não regular. Existem períodos sem ingestão alimentar a que se seguem ingestões excessivas e descontroladas de alimentos de elevado valor calórico, que levam ao aumento progressivo de peso associado a um humor depressivo.


Todas estas doenças estão associadas a um grande sofrimento psicológico e emocional, havendo na anorexia uma relação com um temperamento obsessivo, com rigidez de perfeccionismo; na bulimia, características de personalidade tendem a ser marcados pela instabilidade de humor e impulsividade; e na perturbação de ingestão compulsiva, há tendência para humor deprimido e dificuldade de gestão de afetos.

Existe um conjunto de fatores, nomeadamente genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais, para a causa destas doenças. Alguns dos mais relevantes, são a história familiar de doença do comportamento alimentar, acontecimentos de vida traumáticos e mudanças geradoras de sofrimento emocional. Costumam manifestar uma incapacidade emocional de fazer face às tarefas ligadas ao crescimento e à autonomia na adolescência; uma dificuldade em comunicar vontades e afetos pelas palavras, além de questões ligadas ao corpo e à sexualidade.


É importante as famílias promoverem hábitos de vida e alimentação saudáveis, mas devem também ter muita atenção a comportamentos alimentares que se vão tornando cada vez mais restritivos e rígidos, mesmo em pessoas com excesso de peso inicial.

Identificar o problema é o primeiro passo para evitar a gravidade destes problemas, pois o diagnóstico precoce influencia a evolução da doença e o seu prognóstico. Existem intervenções eficazes que permitem adotar comportamentos alimentares saudáveis e equilibrados.

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